Caldeira dia a dia

A Caldeira 213 existe desde Outubro de 1999.
O espaço de exposições que constituiu a sua sede abriu ao público em Janeiro de 2000.
Está legalizada como Associação Juvenil desde Fevereiro de 2001.


Exposição “desAUTORizado”
organização DACASA
de 7 a 28 de Janeiro de 2000

Pretendeu-se com este conjunto de trabalhos elaborados em simultâneo e especificamente para o local de exposição, colocar em evidência problemáticas-chave da autoria no contexto da produção artística contemporânea, cruzando-as com os eixos de actuação propostos pela CALDEIRA 213: aventura colectiva, autonomia produtiva, dessacralização do “autor”.
“Toda uma série de análises concretas mostraram, com efeito, que sem negar o sujeito nem o homem, somos obrigados a substituir o sujeito individual por um sujeito colectivo ou trans-individual.”  L. Goldmann
A exposição “desAUTORizado” realizada na Caldeira 213, deu início a um projecto já pensado desde o tempo da Faculdade de Belas Artes por alguns dos seus elementos e foi reveladora dos pressupostos estruturais deste colectivo. Conceitos axiomáticos como o de “autor” e de “obra”, que funcionam como um a priori nas Artes Plásticas, são postos em dúvida. A exposição mostra produções realizadas por jovens artistas sem que se possam reconhecer as respectivas “autorias”, proporciona assim, uma pura exterioridade aos trabalhos, induz o espectador a partir de uma tabula rasa para assim poder olhar as “obras”, acaba com a autocracia do “autor” e propõe o mesmo desafio a qualquer artista.
Alguns trabalhos fundamentais como “O que é um autor” de Michel Foucault, “A comunidade que vem” de Giorgio Agamben, “O Anti-Édipo” de Deleuze/Guattari entre outros, são esclarecedores do porquê da individualidade do “autor” ser tomada, erradamente, como a causa principal de um efeito que seria a sua “obra”. A pertinência e actualidade desta problemática parece óbvia numa altura em que a grande parte dos processos de legitimação nas Artes Plásticas obedecem a uma estrutura autor/obra, logo são anteriores a um pós-estruturalismo ou mesmo a um estruturalismo (se  quisermos delimitar a matéria com “ismos”) . A função-autor é um composto de estruturas linguísticas, mentais e sociais. A “obra” nasce desse todo formado por diversas categorias mentais, e assim fazem com que esta seja no fundo uma obra colectiva, cuja exterioridade depende do dissipar do sujeito, “o ser da linguagem só aparece em si mesmo com a desaparição do sujeito”1.
O “autor” como que percorre vários planos de pensamento abertos por outros autores e acontecimentos e nesses cruzamentos de planos encontra-se nas suas diferenças. Não se pode compreender esta crítica ao “autor” sem se perceber no entanto a própria crítica do sujeito, que desde Copérnico, passando por Darwin e Freud tem vindo a ser abalado. E o próprio conceito de obra, o que é? Um modelo economicista? Onde começa e onde acaba quais as suas complexidades, a sua perversidade, e será que perguntas como “Quem é que falou realmente? Foi mesmo ele e não outro? Com que autenticidade, ou com que originalidade? E o que ele exprimiu do mais profundo de si mesmo no seu discurso?”2 ainda têm fundamento? Questões já afloradas no contexto artístico português, particularmente em Fernando Pessoa de uma forma poética ou por Ernesto de Sousa. Mas muitas outras querelas podem ser levantadas se entendermos a actualidade da função (do) autor, relacionadas com  os “direitos de autor”, com a propriedade intelectual de uma obra e com a sua reprodução que hoje levanta alguns paradoxos. As novas tecnologias ajudaram a entender mais facilmente estas questões, mas estas sempre “existiram” nas formas mais conhecidas de autoria/criação. Sabe-se as dificuldades que estes assuntos levantam e por isso mesmo deveriam ser motivo de debate, pois não podem ser subtraídos a um entendimento do que são as artes e a criação, nem tão pouco supor que o assunto é uma tarefa de Sísifo,  porque a própria imagem do pensamento hoje é outra como afirma Jean-Luc-Nancy: “thought which no longer consists in unravelling, in connection, in representative subsumption, in the determination or convocation of ends”3    (Fernando Rocha)

1- Michel Foucault  “O que é um autor” – Vega
2- Michel Foucault  “O que é um autor” – Vega
3- Jean-Luc-Nancy  “The Deleuzian Fold of Thought” em Paul Patton,  “Deleuze: a   Critical Reader” – Blackwell Publishers


Exposição “Pink Lotion” – desafio prático político-sexual”
organização ZOiNA
de 4 a 18 de Fevereiro

“Zoina, s. e adj. 2 gén. Pessoa ou designativo de pessoa estonteada; s. f. (prov.) mulher mal comportada. (De zaino?)”
A ZOiNA, foi um colectivo constituído por quatro elementos ligados às artes plásticas (Ana Madeira, Carla Cruz, Catarina carneiro de Sousa e Isabel Carvalho) A partilha de inquietações, destacando-se as questões de género, foi móbil para a criação de um grupo de intervenção artística feminista.
Esta investigação conjunta traduziu-se na produção de intervenções concretas, actuantes e alargadas.
A primeira iniciativa da ZOiNA teve lugar na Caldeira 213. Tratou-se de um desafio lançado a pessoas provenientes de diversos quadrantes e sensibilidades (artistas plásticos e outras que nunca haviam trabalhado ou sequer faziam parte do universo artístico). Foram endereçados cerca de setenta envelopes com três folhas cor-de-rosa fluorescente (não se queria um rosa passivo, mas uma cor enérgica sem perder a conotação feminina) e o seguinte texto:
«Usar pelo menos uma folha cor-de-rosa que contenha ou esteja contida numa intervenção que se enquadre no tópico: “Desafio Prático político-sexual”. Esta intervenção será livremente manipulada pela ZOiNA na montagem da exposição “Pink Lotion”(…)»
O texto era propositadamente ambíguo, pois interessava verificar qual a reacção das pessoas à concomitância das palavras “político” e “sexual”.
O resultado foi uma interessante exposição cor-de-rosa com as abordagens mais diversas ao tema.
Comprovou-se a pertinência de uma actuação neste campo, principalmente junto à nova geração, menos politizada e que encarava como menos óbvia uma segregação, quer seja de carácter de género, quer seja de orientação sexual.
Sendo dadas como adquiridas as conquistas das feministas e dos  movimentos homo e bi-sexuais, estas questões esvaziam-se na cultura colectiva, dando lugar à inércia da hipocrisia do tão  contemporâneo “politicamente correcto”, que em vez de consolidar estas conquistas introduz um factor de dissimulação que oculta as, ainda fortes, raízes culturais do problema sob uma aparência forçada de igualdade.


Oficina de Expressão Corporal (Euritmia)
orientada por André Amorim
de Fevereiro a Junho

Primeira das iniciativas da Caldeira 213 enquanto formadora. Nesta e em futuras experiências a comunidade “de risco” que constitui a rua dos Caldeireiros mereceu uma especial atenção. As aulas de expressão corporal orientadas por André Amorim prolongaram-se por vários meses com um número médio de cerca de vinte formandos.


Exposição “Nómadas”
organização: Coiote
de 25 de Fevereiro a 17 de Março

“O projecto Nómadas – cartografia e alquimia da viagem que se apresenta no espaço da Caldeira 213 foi organizado por uma entidade pretensamente anónima de nome Coiote. Trata-se de um pilha-galinhas da literatura com mais penas que caprichos e o seu único objectivo foi perder-se pelas pradarias da viagem, na sua estranha cartografia política.  Soube que há alguns anos começaram a surgir uns graffiti misteriosos nas paredes da cidade de Fez, em Marrocos. Descobriu-se que eram traçados por um vagabundo, um camponês imigrado que não se conseguira integrar na vida urbana e que para se orientar tinha que marcar itinerários do seu próprio mapa secreto, sobrepondo-os à topografia da cidade moderna que lhe era alheia e hostil. A mesma coisa pretendeu este coiote, que no esforço de traçar itinerários estrangeiros na sua própria geografia regressa sempre a casa, avançando de mapas secretos a públicos caminhos, de “lá por fora” a Portugal regressa. Portugal – e isto é tão duvidoso – é geralmente considerado, tanto por estrangeiros como pelos próprios portugueses, um enigma, uma sociedade paradoxal. Ainda recentemente Hans Magnus Enzensberger se perguntava como é que Portugal, sendo um dos países menos desenvolvidos da Europa, é capaz de tanta utopia (do sebastianismo à revolução do 25 de Abril), a tal ponto que seria certamente uma grande potência numa “Europa dos desejos”. Muito antes dele, há pouco mais de cem anos, Antero de Quental, exclamava num tom ainda mais pessimista: “nunca povo algum absorveu tantos tesouros, ficando ao mesmo tempo tão pobre”. É sobre esta alquimia nacional – que os espíritos nómadas adoram – que o coiote vos convida a reflectir escolhendo livremente o sentido do ascensor. Sabendo, com naturalidade, que o que os portugueses são ou não são é cada vez mais o produto de uma negociação de âmbito transnacional. (O coiote odeia com idêntico fervor os Macdonald’s e o nacional-cançonetismo dos chacais do poder.)
Mas o melhor é não nos perdermos pelos seus interiores (já basta o de cada um!), porque eu não passo do seu escriba lançando ao mar esta garrafa-mensagem. Há, no entanto, uma frase que está sempre a recitar – o coiote tem uma óptima memória – e que aqui ficará bem à guisa de posfácio, escreveu-a um tal Blair, velho amigo: “Parto sempre da necessidade de tomar partido, de um sentimento de injustiça. Quando me instalo para escrever um livro, não penso: vou criar uma obra de arte. Escrevo um livro porque quero denunciar uma mentira, porque quero chamar à atenção para alguma coisa, a minha primeira preocupação é de me fazer entender. Era-me, porém, impossível escrever um livro, ou mesmo um artigo mais longo, se isso não fosse uma experiência estética. O que sempre desejei foi transformar o ensaio político numa forma de arte. E sinto que quando falta vida aos meus livros é porque não foram politicamente motivados.”
(Texto de apresentação)


Instalação “Marquise de Sade”
de Emanuel Matos
de 25 de Fevereiro a 17 de Março


Exposição “Objectos enviáveis/ Objectos inviáveis”
Registo do circuito público de objectos portáteis
organização: ZOiNA
de 24 de Março a 7 de Abril
dia 24 pelas 21h (Recepção das caixas)
e dia 1 de Abril (abertura das caixas)

A segunda iniciativa ZOiNA foi também na Caldeira 213 e partiu, mais uma vez, de uma duplicidade temática que introduziu uma flexibilidade interpretativa na resposta ao repto.
Pretendia-se fazer o registo do circuito público de objectos portáteis enviados para a ZOiNA, cuja inviabilidade social estivesse ligada às contingências de género que subsistem na sociedade “politicamente correcta”.
Durante uma semana as caixas foram mantidas seladas em exposição, para serem abertas publicamente em dia anunciado, sendo organizada a exposição dos objectos com a colaboração do público.
Esta exposição comprovou a frase “Não se pode ser de género neutro nesta cultura”, já que estes trabalhos tornaram  evidente a maneira como os nossos comportamentos são categorizados como masculinos ou femininos, sendo este esquema perpetuado cultural e não biologicamente, apreendidos na infância e não dados pela anatomia.
Ao serem enviados e manipulados publicamente estes objectos pretendiam ser actuantes, produzindo um pequeno abalo nestes alicerces culturais que invertesse a inércia e despertasse a consciência política.


Instalação “Space is interface”
de Luís Eustáquio
de 24 de Março a 7 de Abril


Instalação “Insert Coin – o dissidente”
de Ângelo Ferreira de Sousa
de 24 de Março a 7 de Abril

“A fabricação do consenso: “O artista tem obrigação de ser dissidente do projecto estatal” (Cildo Meireles, 1996). Há muito tempo que o artista plástico perdeu o monopólio da produção de imagens, mas o presente apresenta-nos uma realidade nova, a falência das imagens. Pior, a necrofagia da imagem, pirateada na sua falsa imparcialidade. A imagem tornou-se na artilharia da “fabricação do consenso” (Noam Chomsky), na marioneta-general.
A todo o momento são produzidas e reproduzidas milhões de imagens de todos os tipos, assustadoramente convergentes, prontas para agirem sobre os espectadores. A falência não reside, portanto, na sua falta de poder mas na perversão, na morte de uma visão cristalina (ou pelo menos de uma interrogação sobre a sua possibilidade).
Uma fatia muito considerável da chamada arte contemporânea foi “domesticada”, estando prisioneira do seu próprio status, tornou-se cúmplice e cómoda. As manifestações de arte são aceites por terem sido em grande parte absorvidas pelo poder no seu discurso propagandístico de auto-promoção. De certa forma uma ruptura activa tornou-se impossível, a menos que se assuma um projecto de emancipação que passe, nas palavras de Jorge Silva Melo, por uma “luta da arte contra a cultura” normalizadora e que procure recusar o novo niilismo do capital, dito “fim da história”. (…) Tudo isto seria em tempos uma “utopia” mas até a Expo 98 teve o seu “pavilhão da utopia” (!), estas palavras (como as imagens) já não nos servem, tornaram-se obsoletas. A urgência de uma reinvenção é a grande ambição do meu trabalho e também das guerrilhas do dia-a-dia. Mas o vento não sopra favorável a este tipo de aventuras, as palavras de Joseph Beuys tornaram-se eventualmente chocantes: “Eu diria que o conceito de política tem que ser eliminado o mais rapidamente possível e substituído pelo poder da forma na arte humana. Eu não desejo trazer a arte para a política, mas transformar a política em Arte.” (1967)
(Ângelo Ferreira de Sousa)


Lançamento da publicação “a língua 3″
organização de Isabel Carvalho e Pedro Nora
15 de Abril


Conferência “O corpo como suporte na arte contemporânea”
por Paula Tavares
28 de Abril


Exposição “Design e Literatura”
organização Luís Eustáquio
de 28 de Abril a 12 de Maio

“Os designers e aprendizes foram convidados pela Caldeira 213 a produzir uma intervenção material que contextualizasse uma articulação crítica entre o exercício do design de comunicação e a escrita/leitura, diluindo ou barricando fronteiras numa abordagem personalizada. Pretendeu-se efectuar uma exploração pedagógica dos campos indefinidos resultantes deste cruzamento, interligar a “genética” da relação intrínseca entre o design, a palavra escrita e a imagem, de modo a apontar novas potencialidades estéticas, formais ou conceptuais para a comunicação visual. tentou-se assim afirmar o designer como agente interventivo e criador de veículos/corredores de comunicação. Não apenas um artesão da imagem mas também um produtor de conteúdos e cultura, alguém que assume publicamente no trabalho que desenvolve uma posição sobre os condicionalismos e potenciais exercícios de influência inerentes ao meio em que se move.”
(da proposta)


Intervenção “corpo luminoso – a parte imaterial do corpo”
por Christophe Ferreira
de 5 a 7 de Maio


Concerto “O Monstruoso Narciso”
por Liberato (cantor e compositor)
6 de Maio


Lançamento da publicação “A Rata 2″
organização ZOiNA

Com apresentação de dois vídeos de
Regina Guimarães
“a mesa” e “a&b”
e de diaporamas de
Daniela Pais Leão, Manuela Teles e Luzia Brandão
13 de Maio


Exposição “identidadesingularidades”
organização Rizoma
de 19 de Maio a 4 de Junho

“Através dos trabalhos expostos pretendeu-se uma problematização/reflexão sobre as diferentes aspectos que podem definir o “sujeito” actual. Desde a nacionalidade, “raça”, religião, sociedade e cultura até à própria linguagem e às idiossincrasias do “sujeito”.
A proposta para a exposição “identidadesingularidades” consiste basicamente, na problema-tização dos diferentes aspectos que podem (de)finir, (de)limitar o “sujeito” (aqui entendido numa perspectiva pós-estruturalista). O  “sujeito”  pode ser convencionado numa relação com as suas actividades sociais, com a sua nacionalidade, “raça”, idiossincrasias, género, linguagem; mas verdadeiramente podemos perceber que ele não é encerrado nem determinável por estas características. Esta morigeração do “sujeito” tem por “função esconjurar os seus poderes e perigos, dominar o seu acontecimento aleatório, esquivar a sua pesada e temível materialidade.”1 Podemos pensar com Agamben que no “sujeito” a “singularidade é uma paradoxal determinação por indeterminação”2 (“todos nós estamos demasiadamente prontos para esquecer que de facto tudo o que tem a ver com a nossa vida é acaso”)3. A nossa identidade é essencialmente fortuita, ou de outra forma “qualquer”4 E aqui o que se pretende é a denuncia de um certo discurso de identidade pré-estabelecida e codificada por sistemas de crença fixos, e o reenvio para uma noção ontológica de autocriação. E como afirma Agamben, a grande positividade que podemos criar deste sistema de globalização/desenraizamento é “se os homens, em vez de procurarem ainda uma identidade própria na forma agora imprópria e insensata da individualidade, conseguissem aderir a esta impropriedade como tal e fazer do seu ser-assim não uma identidade e uma propriedade individual mas uma singularidade sem identidade, uma singularidade comum e absolutamente exposta, se os homens pudessem não ser-assim, não terem esta ou aquela identidade biográfica particular, mas serem apenas o assim, a sua exterioridade singular e o seu rosto*, então a humanidade acederia pela primeira vez a uma comunidade sem pressupostos e sem sujeitos, a uma comunicação que não conheceria já o incomunicável.”5

notas:
1-Michel Foucault, “A ordem do discurso”
2-Giorgio Agamben , “A comunidade que vem”
3-Richard Rorty, “Contingência, ironia e solidariedade”
4-Giorgio Agamben , “A comunidade que vem”
5-Giorgio Agamben , “A comunidade que vem”
* “O pensamento que procura apreender o ser enquanto ser retrocede para o ente sem lhe acrescentar uma determinação suplementar, mas sem tão-pouco o pressupor numa ostensão como o sujeito inefável da predicação: compreendendo-o no seu ser-tal, no meio do seu enquanto, apreende-lhe a pura não-latência , a pura exterioridade.”


Exposição “Volátil” – individual de Carlos Barros
de 9 a 25 de Junho

“Isto é um insulto, um escarro na cara da Arte, um pontapé nas calças de Deus, do Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, do Belo… do que quiserem. E vou cantar, cantarei talvez um pouco desafinado mas cantarei…”
(Texto de apresentação de Henry Miller)


Festa-concerto ao vivo
pelos Woodi
com banca de alimentação Vegana e
banca de publicações alternativas
9 de Junho


“A noite da Folha”
organização do Movimento Cívico pela Alteração da Lei das Drogas
Caldeira 213 e Academia, Aniki Bóbó, Buraquinho, Cosa Nostra, Duque, Gesto, Granel, Hemp House, Labirintho, Meeting, Meia Cave, Mercedes, Pinguim, Pipas, Ribeirinha, Triplex e Vício do Álcool
9 de Junho

“Toxicodependências: uma nova abordagem. Separar mercados, Legalizar as leves. Despenalizar o consumo. Tratar quem precisa”  (do texto da organização)

Integrada num vasto movimento a Caldeira 213 somou-se, com esta festa-manifestação, a vários espaços (bares, galerias, associações) e personalidades do país que exigem uma nova postura dos governantes e da sociedade perante o problema da toxicodependência, reclamando nomeadamente a despenalização das ditas “drogas leves”.


Exposição-performance “Muda”
pelo grupo Intermédio
de 7 a 14 de Julho

“A menudo me parece que me he convertido en buceador; que se desliza entre las aguas buscando algo que ya no recuerda.”
Intermédio é um grupo de quatro jovens artistas com origem em Bilbau, País Basco, com uma longa lista de intervenções em diversos pontos da geografia hispânica e também em Londres. Esta foi a sua primeira acção em Portugal.


Exposição “Alquimias dos Pensamentos das Artes”
comissariada por António Barros
Convento de S. Francisco, Coimbra, de 15 a 27 de Julho

Participação de Ângelo Ferreira de Sousa, Carlos Barros e ZOiNA, membros da Caldeira 213, na abordagem “Tempo de Afirmação para Novos Criadores” no semi-arruinado espaço do Convento de S.Francisco, Coimbra.

António Barros comissariou o evento que teve como título “Alquimias, dos Pensamentos das Artes” numa série de exposições espalhadas pela cidade de Coimbra e um Forum intitulado “Onde estamos a ferida é implícita”. As exposições foram uma antológica de Alberto Carneiro “Arte, Corpo, Natureza”; “Fui tirado de dentro de mim” de Rui Chafes; instalações no Rio Mondego “Mãos dançam no teatro da água” e , finalmente, “Tempo de afirmação para novos criadores” em que a ZOiNA participou com a instalação “Zona lúdica”.
A instalação consistiu na ocupação de uma sala  do Convento de S.Francisco (onde teve lugar a exposição) com tapetes, almofadas e sofás, criando uma colorida zona de descontracção. No centro da sala estava pendurado um boneco de pano de formato antropomórfico, com cerca de 1,60 m. O público tinha à sua disposição uma vasta gama de adereços e órgãos sexuais e não só, que podia colocar (com um sistema de velcro) no boneco, criando personagens à sua escolha. Existia também pendurado na parede e para uso público um fato de tecido azul onde os mesmos órgãos aderiam, permitindo assim a interacção de pessoas e objectos.
A ZOiNA pretendeu com esta instalação questionar os conceitos de hetero, homo e bissexualidade, propondo um novo conceito de pansexualidade, já que pensamos que os primeiros estão constrangidos a estigmas de comportamento de origem cultural e não biológica.
Só separamos homo de heterossexuais porque por um lado a sociedade ainda não distingue sexo de reprodução e por outro ainda julga um comportamento como normal e outro como desviado, impondo às opções sexuais uma pesada carga social. O próprio termo bissexual encerra em si uma insinuação de esquizofrenia.
A “Zona Lúdica” propôs objectos pansexuais para comportamentos desclassificados.
Esta instalação foi também apresentada na mostra Internacional ART NON STOP (ano 0), no Teatro Taborda, organizada pela Associação VO’ARTE.


Exposição Individual de Francisco Miyares Díaz
de 21 a  30 de Julho

Primeira exposição em Portugal deste artista asturiano que se tem dedicado à pintura em grandes formatos.


Exposição “Enfermedad”
individual de Ana Luísa Medeira
de 15 a 30 de Setembro

“Há ainda fronteiras? Mais do que nunca. Cada rua tem a sua própria vedação ou linha de fronteira (…). Cada proprietário ou simples inquilino prega na porta um letreiro com o seu nome, à laia de brasão, e analisa o jornal da manhã como se fosse o senhor do mundo. O povo (…) desintegrou-se em tantos pequenos estados quanto os indivíduos, e os estados assim formados são móveis, cada qual transporta o seu consigo (…). Assim, cada um vagueia sozinho no estrangeiro e ergue em todos os cantos do mundo a sua bandeira de homem só.” P.H.
(texto de apresentação)


Exposição “I`ll be your mirror”
W.C. Container
um projecto Paulo Mendes
Edifício Artes em Partes
de 30 de Setembro a  20 de Outubro
Ângelo Ferreira de Sousa
Carlos Barros
Luís Eustáquio

“É um tal desejo de viver simultânea e rigorosamente acompanhado da recusa do aborrecido, do desinteressante, enfim do coisificado, que constitui o fermento radioactivo da subversão”
(da folha de apresentação)

Intervenção colectiva de três membros da Caldeira 213 no projecto orientado por Paulo Mendes. “O W.C. Container (…) pretende convocar criadores de actividades diversas para trabalhar sobre um espaço tão específico como este, uma casa-de-banho.” (Paulo Mendes)


Exposição “Check In”
de 6 a 29 de Outubro
Projecto Colectivo dos artistas do Rio de Janeiro:
Romano, Aglaíze Damasceno, Alexandre Vogler, Ronald Duarte


“Revolution my body”
Encontros em torno de Ernesto de Sousa
Programação de João Sousa Cardoso
Produção Caldeira 213
3, 9, 16, 22 e 30 de Novembro e 5, 14 e 22 de Dezembro
Participaram dos encontros enquanto oradores: Isabel Alves, Alberto Carneiro, David Santos, Fernando Calhau, Miguel Leal, Albuquerque Mendes, António Barros, Miguel Wandschneider, Saguenail, Regina Guimarães, Eduarda Dionísio e Leonel Moura.

“A Ernesto de Sousa, o mais actuante operador estético da década de 70 em Portugal, deve-se a introdução das novas linguagens de vanguarda no nosso país e uma estética de encontro entre a arte e a vida. A ele ficaram ligados nomes fundamentais da cena artística nacional como Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa, Fernando Calhau, Lourdes de Castro ou Ana Hatherly.
Com o boom económico e a efervescência do comércio de arte, nos anos 80, as utopias foram colocadas na gaveta e muitos itens lançados por essa geração não conheceram o desenvolvimento que as suas possibilidades sugeriam.
O programa aqui proposto, a realizar na Caldeira 213, espaço que converge para lógicas defendidas por Ernesto de Sousa, visa uma série de oito encontros em torno deste artista. Pretende-se, deste modo, revisitar objectos, figuras e momentos desse período (textos, imagens, testemunhos) e pensar a sua actualidade e distensão de possibilidades através de movimentos e criadores de hoje.”
(do texto de apresentação)


Lançamento da revista “Bíblia 10″
editor Tiago Gomes
participação da Caldeira 213
18 de Novembro
com a instalação “Microcosmos” de Ana Gama


“Enunciados”
Exposição individual de Emanuel Matos
de 24 de Novembro a 15 de Dezembro


Debate “Ovos de Colombo”
integrado no Ciclo “Estaca Zero” da Associação “Abril em Maio”, Lisboa
a Caldeira 213 esteve representada por Ângelo Ferreira de Sousa.
25 de Novembro

“O que tem acontecido quando pessoas se juntam para qualquer coisa, seja em “associações” seja doutra forma qualquer. (…) Que ovos de Colombo têm estado na origem daquilo com que podemos aprender e mudar o rumo pelo menos das nossas cabeças”
(Texto de apresentação da Abril em Maio).

“No Porto, houve recentemente, uma definição muito clara do que é o “centro” da cultura, coisa a que não estávamos habituados. Foi uma diferença brutal (…) com muitos aspectos perversos. Nós queremos trabalhar à margem desse movimento e estruturas com as quais nada temos a ver…”
(da intervenção da C213)


“Arte Non Stop – mostra internacional”
Teatro Taborda, Lisboa, 8 e 9 de Dezembro

Participação da Caldeira 213 na exposição de artes plásticas integrada neste evento. Ângelo Ferreira de Sousa, Carlos Barros e ZOiNA. Outras participações plásticas de Susana Chiocca, João Sousa Cardoso, Pedro Tudela, Leonel Moura, Daniela Pais Leão e Nuno Jeramias Ramalho.


“Vias de extinção”
Exposição colectiva de artistas do Porto
Coordenação de Regina Guimarães
Museu da Água, reservatório de água da patriarcal, Lisboa
de 22 de Dezembro a 21 de Janeiro de 2001

Participação da Caldeira 213 (Ângelo Ferreira de Sousa, Carlos Barros e ZOiNA) nesta exposição de jovens artistas do Porto em Lisboa, com um texto e coordenação de Regina Guimarães.

“O que se passa neste momento em termos das artes visuais, e acho que é paralelo a outras áreas, é que o que de mais recente se está a produzir em Lisboa e no Porto acontece de costas voltadas de uma cidade relativamente à outra, o que é francamente negativo. Então, um leque de artistas, dos mais activos que estão a operar a partir do Porto neste momento, decidiram trazer trabalhos a Lisboa. Ao todo são 13 artistas mais um colectivo feminino, ZoiNA, que apresentam um projecto completamente independente, sem qualquer tipo de subsídio, sem qualquer patrocínio ou financiamento. Ou seja, vimos mostrar o trabalho que temos andado a fazer a Lisboa. Para além dos artistas visuais, em vez de convidar um crítico ou um teórico para nos acompanhar, como acontece habitualmente, decidimos convidar a Regina Guimarães, videasta, poetisa, letrista dos Três Tristes Tigres, para nos acompanhar nas reuniões semanais que decorreram ao longo de três meses em que discutimos trabalhos e ela escreveu um texto para a exposição.
Regina Guimarães interferiu no processo criativo?
A Regina encontrou uma linha principal comum ao trabalho de todos nós que foi a questão da invisibilidade, da extinção, como é possível trabalhar e adoptar um gesto criador sem que esse gesto seja gritante, seja mediático e que, não sendo mediático, sobreviva, exista e tenha razão de ser.
Os trabalhos foram-se criando ao longo das reuniões, formos conversando sobre o trabalho de cada um, da pesquisa que cada um estava a desenvolver, de que maneira as obras se podiam interligar e influenciar e a Regina introduziu elementos que, em alguns casos, entraram em rota de colisão com o que alguns de nós estávamos a fazer e muito artistas chegaram a resultados inesperados e surpreenderam tudo e todos.
Que exemplos pode dar?
A Daniela Paes Leão (autora das fotos que ilustram este texto), tem trabalhado sempre a fotografia enquanto registo documental de performances, num sentido muito lato, performances caseiras. No caso desta exposição estava a desenvolver uma performance que é ela e a irmã na praia a partilhar um momento íntimo porque têm uma relação invisível mas fortíssima. É um trabalho manifestamente de cariz autobiográfico e a Regina Guimarães sugeriu-lhe que trabalhasse o apagamento dessa relação, o esbatimento, já que é invisível, em vez de a estar a exaltar, a torná-la visível. A Daniela resolveu, então, começar a fotocopiar até à exaustão as fotografias dela e da irmã na praia, até chegar a um resultado com um ar completamente deteriorado e apagado. É a primeira vez que a Daniela Paes Leão trabalha com fotocópia como suporte artístico.
Então a Regina Guimarães interferiu mesmo ao nível da criação artística?
Em alguns trabalhos. Ela criou um sistema de correspondência connosco, ao longo dos três meses ela esteve esporadicamente no estrangeiro e escrevia-nos postais com frases completamente evasivas, desafios poéticos que nos ajudavam a desorientar, o que se revelou muito produtivo.
Lembra-se de algum?
A mim enviou-me um postal de Paris em que só escrevia “Invisível? Invisível!”, em francês. Eram devaneios poéticos que ajudavam a desorientar e que vão contra uma crítica especializada que domina as artes visuais neste momento, extremamente racional, espartilhada numa racionalidade que é muitas vezes pouco produtiva, politicamente correcta, pouco perversa, pouco transgressora.
Quanto ao seu trabalho presente na exposição?
O meu trabalho foi criado a partir das mesmas fotografias que apresentei há uma semana atrás no Arte Non Stop no Teatro Taborda, em Lisboa. São fotografias que tirei num ritual que acontece todos os anos perto de Esposende, numa aldeia chamada São Bartolomeu do Mar. Neste ritual, uma vez por ano as crianças são baptizadas nas ondas do mar contra o Diabo. É um ritual de origem pagã. No dia da inauguração vou ter as fotografias na minha mão e vou estar sentado numa cadeira a convidar as pessoas, uma a uma, a sentarem-se numa cadeira à minha frente. Convido-as a tomar um café e será uma espécie de performance inspirada numa actuação de Joseph Beuys, em Cassel, em 1972, em que trabalhou sobre o diálogo. Aqui será algo semelhante, será o diálogo a partir das minhas fotografias. Vou estar apenas na inauguração, depois no resto do tempo, deixo os resíduos, as chávenas de café e as fotografias em cima da mesa e peço ao segurança do espaço para tirar uma polaroid todos os dias para ver as transformações do espaço em que ocorreu o diálogo, provavelmente no fim não há nenhuma fotografia porque o público poderá levá-las consigo. A ideia é ver os resíduos a tornarem-se cada vez mais invisíveis.”
(João Sousa Cardoso para NetParque)


Lançamento da publicação “A língua 4″
projecção do diaporama “Bric-a-brac”
organização de Isabel Carvalho e Pedro Nora
5 de Janeiro de 2001


Exposição “desAUTORizado 2 – extensões internas da rua dos Caldeireiros”
Organização Caldeira 213
de 12 a 30 de Janeiro de 2001

Neste primeiro aniversário, a Caldeira 213, regressa à sua provocação predilecta. Um ataque directo às malhas da idolatria do “Autor” no contexto das “artes” desta actualidade finalista da história… À sombra involuntária do Group Material encontraram-se histórias da rua dos Caldeireiros e das suas coisas, Acumulação de “ready-mades” sentimentais, objectos pedidos às gentes da nossa rua, prolongamentos no nosso próprio interior.


Estreia do vídeo “A cor da Arte, filme panfletário sobre a cultura no Porto”
realizado por Zebra
Vídeo, 20m
12 de Janeiro


“Mulheres” de Eduardo Galeano: lançamento da tradução
Tradução do castelhano de Ângelo Ferreira de Sousa
Ilustrações da ZOiNA
Design gráfico de Luís Eustáquio
Produção Caldeira 213
Festa, leitura e performance com base no livro.
19 de Janeiro de 2001

Traduzida nas principais línguas do mundo – com a excepção tristemente habitual do português – a obra de Eduardo Galeano nascido em Montevideu, Uruguai em 1940, soma a sensibilidade histórica e a capacidade expressiva necessárias para resgatar do esquecimento a memória de um continente fustigado pela injustiça, pela pobreza e pela opressão. Os textos reunidos neste pequeno livro a que chamamos “Mulheres”, procedem de diversas obras do autor, iluminam a imagem da mulher escondida por detrás das máscaras de filha devota, de esposa abnegada, de mãe sacrificada, de viúva exemplar… Estas páginas reivindicam a outra face da mulher que obedece, decorativa, que consola e se cala. (AFS)


Ensaio-Aberto “Navalha”
pela companhia de teatro Anjos Pornográficos
26 de Janeiro de 2001


Estreia da vídeo-instalação “Voyage dans leur pays”
de Sílvia Mozes e Magda Felgueiras
26 de Janeiro de 2001


Exposição “+20 grupos e episódios do Porto do século XX”
comissariada Fátima Lambert apoiada por Laura Castro
Biblioteca Almeida Garrett, Porto
Galeria do Palácio
de 4 de Fevereiro a 1 de Abril de 2001
Instalação Miscigenação

“Esta exposição inaugural da Galeria do Palácio (…) traça o panorama da arte no Porto ao longo do século XX, abrangendo pintura, escultura, artes performativas, instalação e vídeo. A ideia inicial foi percorrer um itinerário de 100 anos de criação artística, a partir dos grupos de artistas formalmente constituídos, das associações rígidas em torno de pintores e escultores, dos movimentos mais livres circunstancialmente aparecidos por força de uma ideia renovadora, e até dos simples episódios de carácter estético que marcaram a cidade no decurso do último século. Entre os grupos e episódios seleccionados há os que possuem manifesto e símbolo gráfico; há os que foram dinamizados a partir de uma galeria ou uma instituição; há os que, de modo flexível, reúnem cumplicidades e afinidades sem requisitarem a fórmula de grupo em sentido estrito (…)”
(extracto do texto de apresentação da organização)

“Geração do lixo e da reciclagem, energia nuclear e sentimento ecológico, o fascínio da tecnologia num ambiente natural, época de contaminação, miscigenação, promiscuidade infecunda, pornografia estéril, violência inócua, mixórdia alimentar, dependência como sinal de independência, mártires da doença, ideologias difusas, a sociedade desintegrada, interpe-netração cultural, entrosamento de linguagens, artes multimédia, obras interactivas, solidão nas auto-estradas da comunicação, ciências compostas, religiões misturadas, psicologias místicas, terapias complementares, miscelâneas filosóficas, o quotidiano é um misto de real com virtual, a história confunde-se com o romance, funde-se o bem com o mal, a moral defende o crime, a informação difunde a calúnia, vivemos um tempo lamacento e fértil. O nosso elemento é o E  S  T  R  U  M  E”
(extrato do texto(s) anónimo(s) integrante do catálogo e da instalação)

“Caldeira 213: O Thinking-Room de Ben Vautier

Depois do regresso às disciplinas académicas que dominou o campo das artes visuais nos anos 80 e da imersão de uma estética de cariz essencialmente político e sociológico como foi a da década de 90 (com Miguel Palma, Cristina Mateus, Pedro Cabral Santo e João Paulo Feliciano como criadores mais representativos), começa a fazer sentir-se o início de um novo momento, no que respeita à predisposição criativa de uma nova geração.
Pensar a natureza e as motivações dos novos artistas e das acções culturais em que se encontram envolvidos tem de passar, necessariamente, pela referência à dinâmica inédita que se vem desenhando na cidade do Porto, nos últimos dois a três anos. A instalação do Centro Português de Fotografia na cidade, a concentração do sistema galerístico na Rua Miguel Bombarda (onde se encontram várias das galerias mais fortes a nível nacional) e a abertura do Museu de Serralves contribuíram, de modo decisivo, para o aparecimento e movimento tendencialmente convergente de novos projectos.

Um espaço como a Caldeira 213 que, com um ano apenas de actividade, se afirmou como epicentro de novos autores, correntes e sensibilidades, representa um dos reflexos mais interessantes da dinâmica institucional vivida no Porto. A Caldeira 213 não é uma galeria por não sustentar quaisquer interesses comerciais, nem um simples atelier porque obedece a um calendário regular de actividades e acolhe projectos que lhe são exteriores. Trata-se, acima de tudo, de um espaço de encontro, de troca de ideias e de exposições mais ou menos informais (descomplexadas e  na defesa da obra aberta). Como terá sido a Quadrum na Lisboa dos anos 70, pela coragem da Dulce d’Agro e a coincidência de nomes percursores em áreas artísticas como a performance, o happening e a poesia visual; ou o Espaço Lusitano no Porto de inícios de 80. Este último representou, aliás, um espaço privilegiado da performance, contribuindo em muito para que o Porto se tornasse o pólo mais activo dessa área em Portugal, ficando a ele associados nomes como o de Albuquerque Mendes, Gerardo Burmester ou Pedro Tudela.

É pois, nesta linhagem intermitente – projectos que acontecem espaçadamente, em conjunturas muito particulares – que se poderá entender um fenómeno como a Caldeira 213 e os movimentos que a têm rodeado.
A primeira mostra desAUTORizado fez, em Janeiro de 2000, de imediato, prever um projecto ousado, na defesa de uma estética de risco. Propunha-se a exposição de trabalhos de algumas dezenas de jovens criadores sem que lhes fosse atribuída qualquer autoria. Repescava-se, assim, o mote do desaparecimento do autor numa actualização de grande pertinência. Os artistas viam-se excluÌdos das suas criações, num empenhado combate à fetichização do objecto artístico: a criação nomeia-se a si mesma e faz-se valer apenas das suas qualidades essenciais na interacção com o espectador activo.
Os trabalhos propostos denotavam, claramente e na sua maioria, a valorização de processos pobres e métodos experimentais, em detrimento da imediaticidade de um impacto visual. É, em grande medida, o carácter espontâneo e desinibido – com um apurado sentido de integridade e responsabilidade – que confere espessura criativa à exposição inaugural.

Pink Lotion, o projecto seguinte, desafio prático-político-sexual organizado pelo colectivo feminista ZOiNA, partia de uma proposta simples: todos os participantes deveriam fazer uso, nos seus projectos, do cor de rosa forte que reveste as embalagens do popular creme com aquele nome. A exposição revelou-se uma construção que, pelo sentido de humor e obscenidade – dois registos recorrentes na estética da Caldeira – evidenciam as características que demarcam este universo das correntes estéticas dominantes, demasiado ligadas a uma sensibilidade polida e tímida, que faz uso das linguagens da publicidade e da televisão na sua vertente mais pobre e imediata. A Caldeira retoma, numa perspectiva crítica e actualizadora, motes que guiaram a investigação estética nos anos 70, momento de particular inventividade na história recente da arte em Portugal. “REVOLUTION MY BODY – Encontros me torno de Ernesto de Sousa”, ciclo de conversas aí realizado ao longo de nove intensas semanas (com convidados como Alberto Carneiro, Fernando Calhau, Leonel Moura, António Barros ou Eduarda Dionísio) terá reforçado vontades e agudizado motivações.

Um projecto com tais implicações reporta, sem dúvida, áquilo que Paul Éluard definiu como les geographies solenelles des limites humaines  ou à convicção de Almada de que “a alegria é a coisa mais séria da vida”, na urgência do pensamento e experiência partilhados, eles próprios esteticizados  e detentores de um absoluto poder esteticizante a que tudo sujeitam.
Muitos nomes têm passado pela Caldeira, nomeadamente criadores menos novos como Paulo Mendes ou Regina Guimarães porque a lógica fluída, a impermanência de sujeitos e vocações confirmam os contornos de diferença da transdisciplinaridade deste projecto.

Objectos Enviáveis/Inviáveis foi o quarto desafio lançados pela Caldeira a novos operadores estéticos, solicitando-se o envio de objectos por correio que, ao mesmo tempo, dificilmente encontrassem viabilidade na sociedade politicamente correcta de escritórios de luzes fluorescentes. O resultado foi um grande encontro de trabalhos low profile que, muitas vezes se limitavam à vontade da partilha de pequenos objectos pessoais ou reduzidas construções artesanais, ambos requintados dispositivos de cumplicidade!

Será, natural, pois, ligar atitudes criativas desta ordem a heranças como o trabalho de Ben Vautier (em que o gesto do autor coincide com o gesto participativo do espectador), onde a verdadeira democracia e a fusão ARTE/VIDA atingem o seu ponto máximo de maturação. A acção desenvolvida pela Caldeira é amplificada pelo eco de experiências anteriores que a investem do poder da continuidade e da distensão de possibilidades.

Localizada numa zona central do Porto, próxima do Jardim da Cordoaria, a Caldeira 213 instalou-se, contudo, numa pequena rua da cidade, onde o tráfico de drogas e a prostituição dão o tom. Essa constituirá, ela mesma, uma das principais operações de ruptura com as linhas com que se cose a nossa intelectualidade (particularmente estimulante, vinda de pessoas saídas recentemente de escolas artísticas), na abertura a outras esferas socias da produção artística.

Vive-se – porque à semelhança de um determinado tipo de operações criativas, não será possível racionalizar conteúdos sem a vivência plena desses fenómenos – na Caldeira, um projecto heróico (corajoso por si só, mas mais ainda por não depender de apoios institucionais ou subsídios) que dá, a par e passo, provas de trabalho continuado e responsável capaz de sustentar a verdadeira FESTA, nos seus princípios mais livres, informes e utópicos.

Passa a ser incontornável, a partir de agora, ao mencionar-se o Porto como centro artístico de raro fulgor, a referência à Caldeira 213 como território da mais absoluta vanguarda (não no sentido descreditado e quotidiano do termo, mas pelo assumir o aprofundamento das procuras das neo-vanguardas da década de 70, abruptamente interrompidas pelo optimismo do mercado artístico de 80), na defesa de uma estética anti-legisladora e pró-vivencial, proposta de máxima urgência num momento de reduzido entusiasmo, demasiado colado a uma lógica institucional, como é o presente.
Todas estas rupturas – de que o tríptico de mostras-acções com que abriu as suas portas (desAUORizado, Pink Lotion e Objectos Enviáveis/Inviáveis) é o melhor manifesto – e aparentes intransigências mais não são que, no fundo, a vontade de tabula rasa, o primeiro e interminável passo na operação COMEÇAR de que falava Ernesto de Sousa. Como se de um grande ZERO se tratasse. UMA GRANDE RAZÃO!”

João Sousa Cardoso
(texto inicialmente publicado no nº1 da revista V-Ludo, tendo sido revisto pelo autor para o catálogo da exposição “+ de 20 Grupos e Episódios no Porto do Século XX.)


Exposição “North by Northwest”
organização por Sumpta & Matos
inter+discipllinar+idades
de 2 a 28 de Fevereiro de 2001

Exposição colectiva de artistas do Porto e Lisboa. Participaram: Fernando Fadigas, Eva Mota, Benas Bagdanavicius & Pedro Rogado, Renato Ferrão, Marco Carmaneiro, Alexandre Estrela, Carlos Roque, Eduardo Matos, João Fonte Santa, Sónia Neves, Nuno Jeramias Ramalho.

“A escola francesa de geografia “O Possibilismo” acreditava na interpretação do espaço como sendo a soma das condições naturais e o homem/cultura os quais produziam o resultado ou paisagem.
Nos anos sessenta a introdução de métodos quantitativos e as funções matemáticas produziram
padrões de compreensão; a nova geografia – uma escola de modelos.
A noção de bem estar, ligada a uma interpretação marxista da realidade. As questões dominantes do desenvolvimento e da estratificação da riqueza, o interesse crescente por entender esses fenómenos, formulou aquilo a que então se chamou – geografia radical.
A idade da informação na qual nos encontramos presentemente, remete a geografia para questões da comunicação, onde se fala da cidade da informação, e da não menos importante, questão relativa ao acesso a esta. A noção do espaço passa a contar com conceitos que
ultrapassam a sua definição.
Propõem-se uma reflexão colectiva sobre as questões da geografia e da arte. Para lá da literatura das viagens, numa dimensão em que a pantopia torna todas as geografias em geografias possíveis, depois de superada a retórica do lugar ideal por definição utópico. Depois de
todo 0 histerismo relativo ao não lugar.
A geografia e vista aqui como superfície, no que respeita ao essencial, cruzar (permanente) de informação.
As questões narrativas são propriedade de cada autor como indivíduo que possui uma relação particular com a(s) geografia e que se manifesta enquanto identidade produtora de arte.”
(da proposta dos organizadores)


“Pontos de Encontro”
organização Inter+displinar+idades
Vários pontos da cidade
Porto, 1 a 4 de Março de 2001

Participação da Caldeira 213 nesta iniciativa que pretende desenvolver um “percurso por vários ateliers e outros espaços distribuídos pelo centro da cidade, visado a criação de um circuito artístico alternativo ao institucionalizado…” (da proposta da organização)


Performance “Margimutantis#2”
versão Porto 2001
criação e interpretação: Nuno Meireles e Pedro Barbeitos
textos: Helena Madeira
produção: Pedro Barbeitos
11 de Março de 2001

“Há muitos, muitos anos atrás no ano 2000 numa cidade longínqua, numa cidade de muta-ções… Dois seres confrontam-se, exibem-se, vendem-se. Um ringue, uma exposição um leilão. Dois seres mutantes…”


“Queres unir-te comigo?”
Festa LGBT
organização Nós e Caldeira 213
23 de Março de 2001

Saudando o Projecto de Lei das uniões de facto sem discriminação da orientação sexual, recentemente aprovado na Assembleia da República, o “Nós-colectivo universitário pela liberdade sexual“ e a Caldeira 213 juntam-se em festa. Formulando também entre os dois grupos uma “união” de que se espera muita actividade nos próximos meses…


“Corpo Luminoso 2 – viagem constante de um só ser”
vídeo-instalação de Christophe Ferreira
de 30 de Março a 5 de Abril de 2001

“Este corpo luminoso pode apresentar-se como um corpo dentro do corpo. É a descrição que fantasiei como sendo a parte imaterial do ser humano ou o motor mutável do nosso espírito. Uma entidade que se identifica como sendo uma força de vida interior, que nos conduz sobre qualquer circunstância (…)”
(do texto de apresentação)


“Festa do coelhinho”
organização Nós e Caldeira 213
28 de Abril de 2001

O “Grupo Nós” é um colectivo de estudantes da Universidade do Porto que se propõe lutar contra todas as discriminações baseadas na orientação sexual. Depois do sucesso que foi a última festa deste grupo na Caldeira 213 decidiu-se repetir a dose. A festa “Queres unir-te comigo?” (23 de Março) realizou-se saudando o Projecto-de-Lei das uniões de facto sem discriminaçao da orientação sexual, então aprovado na Assembleia da República. A festa do Coelhinho, mais simplesmente, pretendeu juntar amigos e saudar a primavera que finalmente então despontava…


Lançamento do livro “Ciganos: números, abordagens e realidades”
Estudo coordenado e editado pela Associação SOS Racismo
10 de Maio
Nesta apresentação estiveram presentes:
Adérito Montes das Oficinas Romani (Lisboa)
Isabel Fonseca do SOS Racismo (Porto)
José Falcão do SOS Racismo (Lisboa)
Rui Pereira do SOS Racismo (Porto)
Sérgio Aires da Rede Anti-Pobreza
(Todos os convidados participaram na redacção do livro)

“Aquando dos tristemente célebres acontecimentos de Vila Verde (Verão de 96) e no seguimento do caso, o SOS Racismo publicou uma pequena brochura que, além de historiar todo o processo, teve um enquadramento cultural, cronológico e jurídico. Também procuramos, na altura, saber o que pensavam as Câmaras Municipais. À época apenas conseguimos obter nove respostas.
Depois de Vila Verde, o que mudou? Como se encontra hoje, a comunidade cigana? O que é que sabemos deles?
Foi para tentar responder a estas e outras perguntas que o SOS Racismo se meteu ao caminho, tentando recolher informações, vasculhar jornais, colectar dados e documentos, saber as opiniões de gente que se tem dedicado a esta problemática, compilando números recolhidos por nós e por outras pessoas e associações. (…)
Este livro é mais do que uma colectânea de textos de “experts”, de gente que fala sobre ciganos, é um conjunto de testemunhos vivos, optimistas uns, desencantados, outros, mas sempre baseados nos conhecimentos que só a experiência e a vivência da própria comunidade pode dar. Não se trata, portanto, de gente a escrever sobre ciganos (há alguns) mas, essencialmente, de ciganos a relatar os seus próprios problemas e a procurar reflectir acerca deles e a tentar resolvê-los.”
(do Prefácio)


Instalação “Verdes são os Campos”
Instalação de Ana Medeira (c213), Ângelo Ferreira de Sousa (c213) e Eva Roldán (Aragão)
Feira de Maio da Associação “ABRIL EM MAIO” (Lisboa).
17 a 24 de Maio

Vou tentar explicar-te em poucas palavras como quer ser a nossa instalação. A referência camoniana do título é simples de justificar. Queremos falar de Maio como primavera, como primavera política. Mas valendo-se para isso de referências naturais, de elementos roubados à natureza, ou melhor, de elementos utilizados em ambientes humanizados como capturas miniaturizadas da natureza. Mais simplesmente, imaginamos espalhar pela Abril em Maio vasos com flores ou outras plantas decorativas. Mas vasos são representações algo ridículas do natural, como limitados aquários. De certa forma são uma imagem de domesticação de algo que não pode ser domesticado, que não nos cabe em casa! Por isso queremos parti-los. Poupando, tanto quanto possível, a planta. A terra, as raízes, sujeitadas desde sempre àquela forma estranha não se adaptarão imediatamente à sua nova condição liberta. Antes conservarão a antiga forma do vaso. A antiga forma opressora, isto durante algum tempo, porque depois, naturalmente, voltarão à sua forma informe (livre?). Nem geométrica nem domesticada. Os vasos cerâmicos antes de serem partidos serão pintados com um verde forte, estereotipado. De jardim de plástico.
Depois de terminada a Feira queremos replantar as ditas pobres plantas! Vocês arranjam por ai um canteirinho?
(Texto apresentado na instalação)


“Invicta WC Public Arte”
Série de intervenções em sanitários públicos geridos pela Câmara Municipal do Porto, organizada pelos “Sentidos Grátis”
A CALDEIRA 213 ocupa os sanitários próximos à Estação de S.Bento, nas escadas de 31 de Janeiro da passagem para peões da Praça.
19 de Maio a 24 de Junho


Exposição “A-Fundamentos”
exposição individual de Emanuel Matos
18 de Maio a 3 de Junho de 2001

Depois da sua outra exposição individual “Enunciados”, (Caldeira 213 de 24 de Novembro a 15 de Dezembro de 2000), Emanuel Matos continua as suas investigações plásticas de forma e linguagem.

“ P.: 0 titulo da exposição “A-Fundamentos” pode sugerir-nos varias ideias, mas talvez essa dispersão seja um pouco limitativa …
R.: 0 que se quer dizer com “A-Fundamentos” e que qualquer coisa e dada com certeza sem fundamento, portanto, necessariamente dada.
P.:E essa certeza refere-se a que tipo de “coisas” … ?
R.: A própria realidade dos objectos apresentados.
P.: Então a realidade dos objectos e uma certeza para ti?
R.: Sim, seja qual for a sua natureza os objectos funcionam como uma espécie de domínio do instinto exacerbado de conhecimento, is to e, são abordados esteticamente.
P.: E a realidade nesses objectos, o que é?
R.: Parece-me que andas a volta do conceito de realidade, e ele foi utilizado aqui simplesmente no sentido de presença, materialidade de qualquer coisa que. e evidente, no entanto incognoscível.
R.: E essa certeza da evidência/aparência e para ti conhecimento exacerbado … Talvez porque aches que não existe nada atrás escondido por essa aparência dos ,objectos, ou não?
R.: Eu não disse isso. Quando me referi ao domínio do instinto de conhecimento, estava exactamente a por em causa a certeza desse conhecimento, dito por vezes “científico” sobrepondo-Ihe um conhecimento estético … Em relação a questão da aparência parece-me a mim que por detrás dela esta uma questão riquíssima que e a questão da ilusão, o nosso conhecimento e conhecimento da superfície, no entanto pode, contudo, ser profundo.
P.: Eo que pode trazer de diferença esse conhecimento estético?
R.: Talvez uma forma mais metódica de avaliação.
P.:”Método” sugere-me conhecimento cientifico …
R.: Não obrigatoriamente 0 método estético/filosófico não me parece que seja cientifico na sua razão.
P.: E será razão? Que tipo de razão estas a referir talvez diferente da razão iluminista?
R.: Se entendermos a razão iluminista como algo que se ergue a partir de um pressuposto ou de uma certeza fundamental (sendo este o seu método), sim. Numa estética tudo e construído em cima ou por via de um afundamento.
P.: A tua “obra” não tem pressupostos. Partes de que ponto para a criar? Do nada? Não acho que se consiga criar a partir de um nada absoluto, … Quando falas de a-fundamento referes-te a alga …
R.: Essa questão e importante. Parece-me a mim que a criação nasce do e no próprio acto de destruição (destruição de algo).
P.: A priori o teu trabalho então e a-fundar ou melhor a-fundamentar. Quando desconstróis/destróis um objecto, estas a criar um novo e a-fundamentar paralelamente?
R.: Eu diria que não destruo o objecto, destruo concepções, erguendo o objecto.
P.:Podemos falar acerca de outro plano do teu trabalho artístico, os conceitos. Parece-me evidente que não separas os conceitos dos objectos, certo?
R.: Sim porque concebemos “essencialmente” os objectos mesmo que com isso não saiamos da
“aparência” .
P.:No entanto um objecto pode conter vários conceitos e vice-versa.
R.: Sim e não. Sim porque o objecto e equívoco, e não, porque a concepção e unívoca ou o contrário como queiram.
P.: E o equívoco dos objectos pode ter um lado negativo, interpretações limitativas, não achas?
R.: 0 equívoco e o próprio efeito da ilusão.
P.:Sim, mas pode ser limitativo.
R.:Não concordo, acho que o equívoco levanta a questão.
P.: Insisto, a resposta pode ser enquadrada em parâmetros castradores do teu trabalho.
R.:Sim e possível pois o limite é o próprio horizonte das pessoas … Não se responsabilize o infinito pelos limites em que o constrangem.
P.: Formulas um espectador ideal para os teus trabalhos? Só assim podes esperar que não conduzam os teus trabalhos para interpretações menores.
R.: Não acho que haja interpretações menores, talvez falsas, inverosímeis.
P.:Podemos dar um exemplo de um trabalho ”’desterritorialização”, existe uma interpretação verosímil?
R.: Sim, o próprio processo da natureza se regenerar após o abandono do território e desterritorialização, quase como o processo inverso da arqueologia,enquanto
re-territorialização …” (Entrevista ao artista dirigida por Fernando Rocha)


Exposição “BOP – Bristol ou Porto”
Rita Castro Neves e Kathleen Herbert
7 a 20 de junho

Rita Castro Neves vive e trabalha no Porto e Kathleen Herbert vive e trabalha em Bristol, Inglaterra. As duas artistas conheceram-se em Bristol onde a primeira se encontrou durante o mês de Março numa residência de artistas comissariada pela australiana Juliana Engberg, no espaço artístico  Spike Island. A residência de 6 artistas terminou com uma exposição   “Invitational “ com trabalhos realizados pelos artistas durante esse mês.
As cidades de Bristol e do Porto são cidades-gémeas, pelo que vários intercâmbios culturais têm tido lugar entre as duas. Esta exposição representará pois mais um passo nessa aproximação. Partilhando várias preocupações comuns, Rita Castro Neves e Kathleen Herbert propõe-se agora realizar uma exposição no Porto, mostrando duas instalações video.
As duas peças apresentam pontos comuns não só formal como conceptualmente. Com efeito, visualmente, os dois vídeos, aproximam-se. A aproximação da lente, num caso a um casal, no outro a uma máquina, representa uma tentativa de procurar algo que está por detrás da aparência. O suporte vídeo, que é aqui utilizado mais na tradição da video-art do que do cinema, repete acções. O espectador é assim colocado em atmosferas algo hipnóticas, que através da sua carga emotiva questionam o sentido de alguns dos momentos importantes da existência humana (o amor, o ritualístico, o fazer, a nostalgia).


“Anedotas”
Instalação da Caldeira 213
Itinerários Complementares
(em parceria com a Galeria ZDB, Lisboa)
“Urbanlab” Bienal da Maia_2001
Comissariado de Paulo Mendes
www.bienaldamaia.com
Maia, de 8 Junho a 8 Julho

“Itinerário Complementar.1 – Identidade
Conforme a dinâmica social se vai sedimentando progressivamente numa entrega total ao regime de pura exterioridade, as condições identitárias vão-se tornando itens cuja sobrevivência é sobremaneira ameaçada. O termo “indivíduo” e “colectividade” passam assim a ser remetidos para a sua faceta de absorvedores de dados, emitidos por uma cultura massificante mas fragmentária. A premência de um multi-culturalismo cumpre-se como possibilidade de ruptura e (paradoxal) continuidade de um sistema que, enquanto tal, asfixial inevitavelmente dentro dos seus próprios contornos. Se a apropriação dos fluxos do Outro acaba por conduzi-lo a uma aculturação derradeira, pelo registo autobiográfico podem as coordenadas identitárias ser localizadas e, como tal, tornadas autoconscientes, potenciando a hipótese de autonomia. Se a arte reflecte este sintoma, pela apresentação implacável de uma ausência, identi-tária, transformando-a, no mesmo impulso, em motor de liberdade pela abdicação e recusa do denominado estilo, do artista, e consequente fragmentação do seu pro-jecto, em termos imediatos (formais)”
(Texto constante da apresentação do projecto, de Paulo Mendes)

Instalação “Anedotas”
“Egalité, Liberté, Fraternité” e “Rifas”

“A Anedota é “uma pequena narração de carácter gracioso, jocoso.” Só? São raríssimos o estudiosos que perderam o seu douto tempo a analisá-las. A anedota, na visão clínica de um dicionário, não merece mais do que duas linhas definidoras. Mas entusiasma multidões! À pergunta: “Já ouviste a última?”, ninguém responde negativamente. A anedota é universal, todas as culturas têm as suas. A sua natureza permite-lhe infindáveis traduções e versões, que nenhum autor sequer sonharia para as suas obras sérias. Mas nunca ninguém se lembrou de assinar a sua, a anedota é sempre anónima. A anedota transcende a tal ponto a noção de autor que nos podemos perguntar se teve autor. A anedota é actual, aparece sempre destruindo a seriedade dos assuntos falados no momento. A anedota é implacável, não respeita mortos, nem políticos, nem papas, nem deuses, nem dores… A anedota é cínica, é ideológica. A anedota transmite maioritaria-mente os valores dominantes, e menos frequentemente a visão de culturas minoritárias. A anedota é quase sempre nietscheana, ri-se sem pudor do fraco e do aleijado que estorva, é a super-anedota. A anedota também repugna e faz-nos sentir mal das próprias gargalhadas, a anedota incomoda. A anedota é constantemente reconstruída a cada vez que é contada. A anedota transforma o espectador de há pouco, em co-autor. A mesma anedota morre ou renasce no boca-a-boca, a mesma anedota pode ter toda ou nenhuma piada conforme a pessoa que a conta e o cenário ambiente. A anedota é sensível às situações. A anedota desperta o actor e o mimo que todos transportamos connosco. A anedota é exigente e o pudor mata-a. A anedota luta contra todas essas vergonhas com palavras feias, com ácidos palavrões que corroem os ouvidos dos moralistas. A anedota goza, caralho, com as tuas ideias! A anedota circula mais rapidamente que qualquer ideia. Em pouco tempo todos sabemos a “última”. A anedota é forte, tem a energia do que está vivo e é divertido. Dá vontade de rir e impele-nos a partilhar essa estúpida alegria com os outros. Todas as tentativas para domesticar e comercializar a anedota são um fracasso. Ninguém compra livros de anedotas porque, simplesmente, não têm piada. A anedota é oral, não se dá com as regras da liguagem escrita e muitas vezes ridiculariza a própria língua. A anedota é política e social como o Homem. A anedota faz gato sapato dos valores e das crenças. Em tempos tão monitorizados a anedota é uma das últimas manifestações colectivas, todos partilhamos essa obra. A anedota reforça amizades, marca inimigos e inicia boas discussões. A anedota pode ter mil caras, mas é sempre irresponsável e representa a faceta antisagrada dos Homens. A anedota não se louva. A anedota, por fim, esquece-se, quando se torna demasiado conhecida ou quando desaparecem os seus motivos ou as suas perso-nagens. Tem a vida justificada e um prazo exacto.

CALDEIRA 213 as boas anedotas que queremos ser.”


Exposição “Calda 1”
Exposição de alunos do 3º ano do curso de Artes Plásticas Escultura da FBAUP
22 de Junho a 5 de Julho

“ Calda nasce do nosso desejo de envolver os alunos do 3º ano do curso de Artes Plásticas Escultura em situações de trabalho para as quais estes se encontram rudimentarmente informados e formados e que nos parecem pertinentes, nomeadamente a organização de um portfólio, a defesa conceptual de projectos e sua elaboração, a demonstração de que a escultura não se reduz ao trabalho tecnicoformal, a preocupação com a escala, a iluminação, o espaço, a eficácia da ideia, a arte como processo comunicativo, a relação com o espectador, …
Na sequência destas questões surgiu, entre outras já realizadas, uma proposta de trabalho que coloca a questão da apresentação pública de projectos, como acontece nos concursos, por exemplo, como preparação para a saída da faculdade, confrontando os alunos com situações para as quais se devem começar a preparar, trabalhando espaços e projectos específicos, percebendo os bastidores de uma exposição. O principio de um contacto com a realidade, munidos de algumas ferramentas que nos parecem imprescindíveis para enfrentar um futuro, no qual o profissionalismo e a capacidade de apresentação e concretização de ideias são fundamentais .
O espaço e uma das questões com que a escultura se depara, por precisar dele e poder viver dele, com ele e para ele.
Pelos seus sentidos, a palavra espaço implica relações de lugar, volume ocupado, orientação, tempo, duração, intervalo, vastidão, vida (espaço vital), percepção.
Abrangendo estes significados, estão ainda implícitas diferenciações entre espaço público e espaço privado, espaço interior e espaço exterior, espaço positivo e espaço negativo, espaço real e espaço virtual, espaço habitado e ermo, espaço bidimensional e espaço tridimensional, espaço limitado e espaço infinito, espaço aberto e espaço fechado, espaço/tempo, dia/noite, Iuz/escuridão, presença/ausência, permanência/passagem … ( … )
A Caldeira 213 surge de necessidades sentidas por parte de um grupo de alunos e ex-alunos desta faculdade, em, entre outras coisas, dar continuidade ao seu trabalho.
E um espaço aberto a propostas, aberto ao publico, no qual estão disponíveis 2 pisos, num total de 5 espaços, com diferentes características e dimensões.
“Desenvolve um projecto específico para um destes 5 espaços considerando as suas diversas fases. Desde levantamento e medição, desenhos, textos, maquetas, … , toda a informação que permita a qualquer indivíduo antecipar resultado desejado. Com esta documentação será realizada uma exposição de todos os projectos (Calda 1 ), que depois de avaliados, e num contexto posterior ao contexto lectivo, serão sujeitos a uma selecção ( um por espaço, num total de cinco) para sua concretização e posterior apresentação publica, que será da responsabilidade dos autores e com 0 nosso apoio e da Caldeira 213.”(retirado da proposta de trabalho
apresentada aos alunos )
A selecção dos projectos que integração a Calda 2 será efectuada por um júri, sendo que um dos seus elementos e o publico que visitar o evento, por Ihe ser dada a possibilidade de votar no projecto que considerar melhor.
A partir do próximo dia 22 de Junho e ate 5 de Julho a Calda 1 recebe a vossa visita e votação.
A nós resta-nos agradecer a Caldeira 213, a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e a Câmara Municipal do Porto pelo apoio concedido.”
(Os docentes de Atelier de Escultura: Rute Rosas, Rui Anahory)


Exposição “Falha Obscena”
Organização Grupo Nós e João Sousa Cardoso
de 7 a 31 de Julho de 2001

Visão colectiva sobre as questões de género e a sexualidade nas suas amplas perspectivas. Trabalhos de Daniela Paes Leão, Susana Chiocca, Nuno Ramalho, Carlos Barros, João Sousa Cardoso, Manuela Campos, José Maia e participação especial de Channel.


Festa-lançamento da revista “Bíblia 12”
Editor Tiago Gomes
28 de Julho


“Brrr… Festival de Live Art”
Primeiro encontro internacional de performances e instalações performativas no Porto
Comissária Rita Castro Neves
Produção executiva Miriam Faria
Uma co-produção Brrr, Auditório Nacional Carlos Alberto, Teatro Nacional de S. João (PoNTI) e Porto 2001 (Área do Pensamento)
Porto, 28, 29 e 30 de Setembro

Colaboração da Caldeira 213 na co-produção deste evento.
Participação de Ângelo Ferreira de Sousa (C213) com a performance “O que é feito dele?” (Estação de S. Bento) e a vídeo-instalação “A Poesia é outra língua II” (Espaço Maus-Hábitos)


“Discurso Psico-génese”
Organizado por João Sousa Cardoso e Daniela Paes Leâo
(Edição do livro que documenta as actividades)
de 28 de Setembro a 15 de Outubro


“Hangar: Discursos Desviados”
Organizado por Ângelo Ferreira de Sousa
Com: Charela Diaz, Jonas Liverod, Jaume Pitarch, Kai Takeda e Ângelo Ferreira de Sousa
(todos artistas residentes nos estúdios Hangar de Barcelona)
de 15 a 31 de Março de 2002


A partir desta data a C213 fechou as portas da sede da rua dos Caldeireiros.
Continua a existir apenas como Associação legalmente reconhecida.


caldeira213.net // ler / ver / ir / dizer